segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Foi Deus quem me deu"

Se tem uma coisa que tem me deixado intrigado ultimamente é essa frase que estampa o vidro de alguns carros. Eu simplesmente não consigo entender como alguém pleno de suas capacidades mentais associa a aquisição de um carro a uma dádiva divina.

Hoje, possuir um veículo (de preferência, zero quilômetro e com todos os ítens opcionais inclusos) é o sonho de consumo de muitas pessoas. Não nego o direito obtê-los. Não existe crime nenhum nisso. Mas combato aquela associação infeliz.

Mas por quê? São vários os motivos. O primeiro deles, talvez não o principal para quem não é religioso, é o fato de transformar Deus numa entidade seletiva. Devido a isso, só algumas pessoas teriam o "privilégio" de ter um carro. Pode-se questionar essa "tese" afirmando-se que quem trabalha consegue a "dádiva". E ai eu entro com uma pergunta: quantos, no Brasil principalmente, trabalham oito, dez, doze e até catorze horas por dia e mal têm o direito de ter na mesa o necessário para a sua subsistência? A resposta fica a cargo da consciência de cada um.

Uma outra pergunta seria: Por que logo Deus me daria um instrumento que mata, consome, polui (lembrando que o carro é um dos maiores vilões do aquecimento global), se deteriora com rapidez, gera gastos extras com manuntenção, seguro e tributos e só faz piorar o trânsitos das nossas cidades?

Não! Carro não é uma dádiva! Longe, muito longe disso. Excetuando-se aqueles que necessitam do carro ou de qualquer outro veículo automotor para seu próprio sustento e o de sua família, carro é unicamente produto de um dos nossos maiores pecados: a vaidade. A vontade de ter um carro não está associada à nossa necessidade. Logo não pode, de forma alguma, ligar-se a Deus.

3 comentários:

  1. Sou totalmente partícipe desta sua opinião. Também me sinto incomodada com as frase do tipo. Tem uma,em especial, que me aborrece também: propriedade exclusiva de Jesus... Totalmente sem noção...Em fim...
    Na minha opinião é uma forma muito empobrecida de compreender o divio. E pior, associando ao que não tem (em essência) valor algum... Pura contradição, uma vez que o evangelho e tudo que está relacionado ao divino é puramente subjetivo e fundamentado na essência humana e divina...

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  2. uma colega, que está sem trabalhar e recentemente ganhou um carro do marido disse que iria colocar : "foi meu marido que me deu"

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  3. Discordo de você, mas lhe entendo. Na verdade, pra mim o problema não é a frase em questão mas a motivação de seu uso. Sobre as dádiva de Deus, penso que esta questão é muito mais profunda, ela requer um andar com Deus que só a fé pode justificar. Mas, permita-me o atrevimento da tentativa de uma conceituação. Por não haver um relacionamento intimo com Deus as pessoas iludem-se na crença de que tudo o que tenho vem de Deus, quando na verdade o que não tenho também vem de Deus, porque Ele "sabe o de que temos necessidade" (Mat. 6:8). Ademais, temos sempre a tendência de nos desviar de nossa responsabilidade. Dê uma lida em Tiago capítulo 4 dos versículos 1 até o 10.
    Grande abraço e grande texto - Deíllio Souza

    PS: Vou colocar seu blog como parceiro do meu!!

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